sexta-feira, 2 de março de 2012

Vergonha


Não, não estou falando dos que deveriam ter. Estou falando de mim. Estou falando de nós.

Vergonha para com os outros, os que sabem que estamos no processo de imigração. Vergonha de ter falado que iríamos no final de 2011. Vergonha da festa de despedida ocorrida meses atrás. Vergonha para com as pessoas que se comprometeram a comprar minhas coisas e eu pedi para esperar só um pouco. Vergonha de querer mandar se danar aquela pessoa que encontro a cada dois meses e sempre pergunta sobre meu processo.

E vergonha para mim mesmo. Vergonha de ter acreditado com todas as forças em algo que não aconteceu. Vergonha de ter largado todos meus outros planos. Vergonha de ter arrastado minha esposa para isso. Vergonha de ter largados coisas aqui para recomeçar no Canadá e agora ter que recomeçar aqui.

Vergonha de ter errado feio.

2 comentários:

  1. Velho, espero que sejam bem vindas as palavras de quem também esperou muito mais do que gostaria, levou mais tapas na cara do que esperava e encontrou menos "perfeitice" do que pintaram nessa caminhada até o "sonho canadense".

    Eu compreendo cada centímetro desse sentimento ao qual se refere, e sei que a expectativa que criamos em torno desta mudança nos trai em 150% dos casos.

    Sabemos todos, que, cada caso é um caso, e muitas vezes somos nós mesmos os responsáveis pelos passos mal dados nessa caminhada. Seja por falta de vontade, de iniciativa, de empenho, de perseverança, de confiança, ou simplesmente de coragem pra encarar o peso da eventual frustração como um preço natural pela "loucura" que vestimos de vermelho e branco e chamamos de sonho de mudar de país.

    O seu sentimento não poderia ser mais genuíno, e duvido que algum de nós, "imigrandos", vá passar por esta estrada sem pisar na pedra da frustração. E uma mudança dessas não se faz escondido num canto. Envolvemos parentes, amigos, colegas, pessoas que amamos. E qualquer um deles que não esteja muito presente é um forte candidato a aparecer com a frustrante questão do "e aí, não ia pro Canadá?", e essa interrogação engancha como nenhuma outra no coração de quem gostaria de ter uma resposta simples e clara pro atraso repetido e sem muita explicação do nosso infindável processo de imigração.

    Minha solução pra isso foi:
    - Comece simplesmente acreditando no propósito de tudo isso;
    - Se mantenha de pé, salve energia, guarde grana, se prepare de todas as formas pra dar o mais difícil passo dessa jornada, que começa ao pisar em solo canadense.
    - Compreenda que não há caminhada sem pedras, e estas são suas, e de mais ninguém. Você não precisa justificá-las, nem sequer deve esperar que os outros compreendam. Pois muitos não o farão, e isso te decepcionará mais do que você merece e espera.

    Chegar aqui é a única forma de entender o quanto vale essa árdua jornada. Pena que a gente só chega depois de passar por tudo isso que estás passando.

    Você não errou na sua escolha de imigrar, e até onde sei, não errou nos passos que tem dado pra torná-la possível. Talvez apenas tenha errado na certeza que depositou num cronograma que ninguém jamais será capaz de precisar, e que varia a cada dia. E nós, pobres humanos, precisamos nos prender a alguma coisa, acreditar que as coisas estão andando. E assim nos presenteamos com a bendita frustração.

    Mas isso tudo dará um sabor muito mais rico à conquista de chegar aqui e descobrir que a vida pode e merece ser mais.
    Esta é a leitura que tenho partindo da minha realidade e da maioria das pessoas que conheço que seguiram esta estrada e já estão aqui.

    Boa sorte, meu velho.
    Força pra continuar.
    Compreensão dos que te cercam. E acima de tudo, sua, para com você. Pois o caminho já é bastante difícil quando a gente está de cabeça erguida.
    Grande abraço
    Igor, ou Ouigor, como já me chamam. =)
    www.ouigor.blogspot.com

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  2. Belas palavras, Igor, deu força ao seu amigo e por tabela a todos nós que esperamos ávidos por pisar nas terras canadenses.
    Acreditar que tudo vem no tempo certo, nem antes e nem depois, é nisso que precisamos acreditar e não nas previsões (furadas) do consulado!
    Bon courage, mes amis!

    Mamãe ZO

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