domingo, 20 de maio de 2012

Trilhos

O frio vento de outono assovia nas abas do meu casaco. Minhas mãos estão enfiadas nos bolsos procurando algum calor que possa ter sido largado por lá em um dia melhor. O relógio da estação marca quatro horas da tarde mas o céu nublado não permite conferir a posição do sol. Aquelas nuvens não trazem chuva, apenas tampam a vida do mundo. O dia inteiro foi assim, cinza.
A estação está deserta, além de mim e do relógio. Ele não me julga ou acusa, apenas gira seus ponteiros. Não há ponteiro de segundos e eu me pergunto se não é desperdício haver um de minutos. O local não passa de uma plataforma coberta e um pequeno guichê para venda de passagens. O guichê só funciona de manhã cedo. O tempo passa devagar, cada minuto igual ao anterior.
Em volta há apenas campos de trigo. A região é quase plana por quilômetros, terminando na cordilheira bloqueando o horizonte. É para lá que os trilhos vão, fazendo uma curva à esquerda para desviar das montanhas. O vento balança a plantação causando um barulho característico. Não se ouve nenhum animal, pessoa ou máquina, apenas as plantas batendo umas nas outras.
Desci da plataforma e sentei entre os trilhos. No horizonte, vi a minúscula imagem de um trem. Ou pelo menos, acho que vi. Racionalmente, eu sei que ele vai chegar. Que ele tem que chegar. Assim me disseram quando comprei a passagem: "O trem costuma passar às dez da manhã.". Agora eu vejo, realmente vejo um vulto. Os trilhos à minha direita e à minha esquerda vibram levemente.

Mas eu não me levanto. Como pode alguém não acreditar em um trem?

2 comentários:

  1. Johnny,
    Vi duas pessoas lá da CBQ de janeiro terem o status do e-cas mudar para In process, fique de olho no seu ok?? Logo, logo diminuir esse tempo de espera.....rsrsrsrs

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  2. O horário do trem já mudou tantas vezes...que eu também fico apreensiva de acreditar esperar, esperar, esperar e ele não passar...

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