segunda-feira, 30 de maio de 2011

O profissionalismo como religião

Este é o título da coluna de Cláudio de Moura Castro na revista Veja desta semana. O assunto é sobre profissionalismo e o nível de qualidade que os próprios profissionais exigem de seu trabalho.

Destaco os seguintes trechos:

"Aqueles países com forte tradição de profissionalismo disso se beneficiam vastamente. Nada de fiscalizar para ver se ficou benfeito. O fiscal severo e intransigente está de prontidão dentro do profissional."
...
"Não apenas não sabe fazer de qualquer jeito, mas sua felicidade se constrói na busca da excelência. Sociedades sem tradição de profissionalismo precisam de exércitos de tomadores de conta. (...) Sai benfeito  quando alguém espreita. Sai matado quando ninguém está olhando."

Esta coluna chamou muito a minha atenção pelos conceitos apresentados, principalmente o de "tomadores de conta". Eu percebi que a minha equipe precisa de um "tomador de conta" e que eu já fiz este papel no passado (hoje este papel está com outra pessoa). Este modelo acarreta uma série de problemas, como baixa qualidade, grande quantidade de correções, atraso nos projetos, e, em última instância, baixa qualidade das entregas para os clientes. A administração da empresa entende que todos estes pontos são compensados pelo "menor custo" da mão de obra.

O problema é que este é o ponto de vista de toda a indústria de software, não só de onde eu trabalho. Como software é algo abstrato, é difícil avaliar a qualidade do serviço. Fazendo uma metáfora, imagine que não haja montadoras de automóveis e que todos são feitos por encomenda aos mecânicos das oficinas. Você pode até olhar como ficou por fora e dar uma volta no carro, mas para saber se foi bem feito você precisa desmontá-lo peça por peça.

Na indústria de software "desmontar peça por peça" chama-se "revisão de código". Consiste da leitura por um "profissional experiente" de todo o código fonte gerado. Na prática, esta revisão raramente é feita pois é cara. O que se usa são "testes de caixa preta", que é o equivalente a olhar o carro e dar uma volta. O problema é que às vezes o teste é dar uma volta em um quarteirão plano sendo que o cliente vai fazer rallye. Existe um tipo de profissional chamado "Analista de testes", que define quais os testes que devem ser feitos. No Brasil, esta é uma profissão bastante desprestigiada, quase de "segunda linha". Eu nunca vi um analista de testes que ganhasse o mesmo que um analista de sistemas, embora o nível de qualificação requerida seja semelhante.

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